Fotografia: a poesia do olhar

oto dos pés com all star branco e uma poça d'água no chão. No reflexo, há a silhueta de um homem acenando com a mão aberta. Na água da poça, também há folhas e pétalas de flores.
Em tempos onde tudo acontece muito rápido, que bom poder eternizar certos momentos, não é? Ainda bem que ela existe: a fotografia.

O sábio artista Andy Warhol disse certa vez que “a melhor coisa sobre uma fotografia, é que ela não muda mesmo quando as pessoas mudam”. E como mudam!

Meu interesse pela fotografia surgiu há alguns anos com um presente de aniversário: uma câmera digital. Naquele tempo, minha vontade era registrar os momentos com os amigos. Torná-los infinitos.

“Que bom que tenho as fotos”, era o que eu pensava. Como se minhas memórias só existissem se eu as tornasse concretas e as registrasse. Felizmente eu estava enganado.

E Warhol foi muito feliz ao afirmar que as imagens não mudam. Ao olhar as fotos que fiz na época do colégio, lembro dos perfumes dos amigos, sinto os abraços, lembro dos sorrisos, das conversas. E consigo enxergar que o Rafael de hoje está muito diferente daquele adolescente de 15 anos atrás.

Os registros fotográficos são uma válvula de escape para mim. É como se eu pudesse mergulhar em um universo silencioso, onde tudo que vejo se comunica comigo sem uma palavra sequer, mas com cores, sombras, texturas, linhas e formas.

Encontrei nessa atividade uma forma de estar comigo mesmo, e também de transmitir aquilo que eu enxergo de uma forma que mais ninguém vai fazer.

Ao longo do tempo, outras câmeras foram chegando, inclusive a de celular, que é a minha parceira. Chegaram também novos amigos com quem aprendi a melhorar meus registros. Que me incentivaram a não deixar de fazer isso à minha maneira, e que valorizaram esse talento (nossa, nunca pensei que ia dizer isso).

Ao chegar aqui na Espiral, aprendi que, infelizmente, não é todo mundo que pode enxergar uma fotografia, suas cores e detalhes. “Mas isso não é óbvio, Rafael?” “O óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar”, nos disse Clarice Lispector.

Conheci, então, a hashtag #PraCegoVer. Um movimento criado para descrever as imagens que circulam na Internet para que pessoas com deficiência visual possam navegar e ver as imagens disponibilizadas na web.

Olha a teoria do senhor Warhol se confirmando. Minhas fotografias estão intactas, mas hoje não há imagem que eu olhe sem pensar: “Como posso transmitir o que vejo da maneira mais fiel para aqueles que não enxergam?”.

Que bom que as pessoas mudam, diferente das imagens. Posso dizer que aqui na firma, eu passei a ter mais respeito, atenção e empatia com muitas causas. Vale aqui, um agradecimento a todos que trabalham comigo e que, de uma forma muito especial, me receberam, ensinaram e ensinam todos os dias. Obrigado!

Embora eu já tenha algumas fotos com quem trabalho, posso dizer com certeza que, mesmo se elas não existissem, as memórias e o que aprendi eu carrego comigo para sempre.

*Rafael Cavinato é turismólogo, conteudista e fotógrafo na Espiral.