Não existe padrão num mundo marcado pela diversidade

Eu nasci programada para ter interesse pelo diferente.

Explico.

Desde pequena, eu sempre me interessei pelas coisas “fora do padrão”. E isso de forma natural, porque, apesar de uma criação liberal em todos os aspectos, meus pais nunca traziam discussões sobre essas temáticas nas conversas de família.

Mas também, convenhamos: meu pai, jornalista, levava para casa, semanalmente, revistas e jornais variados dos veículos de comunicação onde trabalhava. E deixava cada uma das edições ali, à disposição de quem quisesse ler.

Me lembro de exemplares da revista Semanário e Manchete, por exemplo (quem se lembra?!). E também das edições do falecido Notícias Populares e seu estigma de “espreme e sai sangue”.

Lembro também dos exemplares, lançados em primeiríssima mão, da revista Playboy. A publicação não era associada com pudor dentro da minha casa. Quantas vezes eu lia as piadas da revista proibida para menores, que ficavam nas últimas páginas e, ao não entender, obviamente, ia perguntar para meus pais…

Você acha que eles se alarmavam? Que nada! Me explicavam de uma forma honesta, porém com um contexto mais voltado para minha idade.

E assim fui me deparando com temas diversos, curiosos, incríveis, bizarros. Sem vetos ou pudores.

Os anos foram passando, eu fui identificando que toda essa exposição aos meios de comunicação e temas variados me fazia bem e me localizava no mundo. Além disso, me ajudava a ter um bom desempenho escolar e, sim, me atrevo a dizer, social e político. Tudo isso me ajudava a entender melhor quem eu era.

Quando a internet chegou ao meu alcance, meu coração disparou. Eu podia ter acesso a absolutamente tudo aquilo, de uma só vez, a um clique de distância – e alguma paciência com a internet discada.

Me encantei com aquele mundo de informações e possibilidades infindáveis. E apostei que aquilo ali seria um espaço que mudaria o meu mundo.

E mudou. O meu e de todos os habitantes da Terra.

Mesmo com o lado negativo da internet (sim, ele existe e a gente sabe disso), a comprovação de que a diversidade existe, sempre existiu e vai continuar existindo, trouxe para a vida das pessoas uma libertação emocional, social e humana muito grande. Uma forma de aprender a conviver com o que sempre esteve ali, mas que nem sempre era trazido para nossa realidade.

Isso nos permite, cada vez mais, enxergar a beleza e a maravilha de todas as pluralidades que existem por este mundo afora.

Sou uma militante de causas. A diversidade esteve – e está – presente na minha vida de absolutamente todas as formas.

Apesar de ser uma apaixonada e eterna otimista pelo tema, sempre foi muito frustrante não conseguir entender o porquê de o mundo não valorizar e empoderar esta verdade. A multiplicidade está aí, é um fato. Já percebeu que não existe padrão? Que o padrão é exatamente a diversidade? A pluralidade? Então por que o mundo reluta tanto em aceitar esta REALIDADE? Eu sempre quis saber.

Com a rede, pude expandir minha militância e meu acesso às informações e variedades que sempre me atraíram tanto. E pude me conectar com tantas pessoas, temas e conteúdos que se fundem com essa minha característica. Desde então, apesar de alguns desafios, eu me tornei um ser humano mais feliz, mais empolgado e mais crente que a aceitação de tudo isso é algo que deve ser militado e insistido, porque é a única realidade existente neste planeta que conhecemos. Não digam que não.

Com esse encontro de almas (da minha com a da diversidade como sentimento de mundo), decidi que só existiriam duas possibilidades para a minha vida em termos profissionais: educação e comunicação. Seria desta forma que eu conseguiria pesquisar, aprender e vivenciar em tempo real os vários aspectos da vida e do mundo, militar e levantar minhas bandeiras de forma mais encorpada, mais consistente e mais empoderada.

Me formei em Comunicação Social, me especializei em Gestão e em Educação ESL (English as a Second Language). Estudei idiomas, viajei muito, conheci pessoas, crenças, rituais e culturas muito diversificadas.

E continuo nessa “pegada” porque quero me munir do que for possível e acessível em prol da defesa dessa temática. A internet, mesmo que se mostre obscura, injusta e tendenciosa em muitos aspectos, é um dos caminhos para que tudo possa ser conectado e para que possamos estar, como mundo, nações e culturas variadas, mais unidos do que nunca – mesmo que essa premissa soe, de certa forma, utópica. Eu acredito que não seja.

Após longos anos atuando na área de ESL, mesmo tendo trabalhado, paralelamente, durante seis anos como repórter de cultura na Agência BR Press, decidi que era hora de mudar o meu meio. Mas mudar para algo que continuasse me dando sentido para incorporar novas experiências, descobertas e militâncias que fizessem a alma sorrir. Decidi que naquele momento de mudança, o que eu mais queria era atuar no nicho mais plural que me fosse possível, que ajudasse o mundo (olha a minha pretensão, rs) a chegar mais próximo à aceitação da realidade das diferenças.

Tenho atuado no terceiro setor desde então, eu não consigo me ver, pelo menos hoje, atuando em outro espaço. Quando a oportunidade de trabalhar para a Espiral Interativa apareceu, eu pensei: “Olha só! Jornalismo + causas”.  Em uma agência de comunicação que não é vendida e nem tem o rabo preso (é isso mesmo!), e que me dá orgulho de fazer parte. Uma empresa que inspira, expira e transpira diversidade, representatividade e inclusão, dentro e fora de seu espaço físico, com seus clientes, apoiadores, colaboradores e liderança. Literalmente. Algo mais próximo do mundo ideal.

E o que é o ideal? O real: DIVERSIDADE. Sim. Porque, como já disse, este é o “padrão”. Seja na cor da pele, na etnia, na religião, na natureza, na sexualidade, nas crenças (que não necessariamente têm a ver com Deus), na política, na economia, nos grupos sociais, na educação, nos gostos, nas preferências e nas variações humanas – sejam elas psíquicas ou físicas (vamos incluir aqui absolutamente todas as variações existentes de pessoas com deficiência – será o termo certo, “deficiência”? Poderia haver algo menos pejorativo, menos excludente, pois deficiência pode ser sinônimo de falha, de imperfeição e de errado, coisas que o diferente não é. Um cego, por exemplo, não tem uma falha por ser cego, se é que me entendem… Mas isso pode ser uma discussão para outro momento (vide discussões em Portugal e Espanha sobre o termo “Pessoa Com Diversidade Funcional”).

Já parou para pensar na energia ruim que muitas sociedades, entidades e mentes estreitas investem contra algo tão lindo, natural e real como a pele negra, por exemplo? Ou contra a homossexualidade? As deficiências? As religiões menos conservadoras? As preferências do outro que não cabem a nós julgar? Tudo isso poderia ser evitado e TRANSFORMADO. Transformação é a palavra!

Quem sabe um dia, mesmo que não seja em breve?

Quem sabe?

*Eli Maciel é coordenadora de comunicação em atendimento, gestão de projetos e qualidade na Espiral Interativa.