O Design e a Inclusão na Web

Foto de uma mesa diversas folhas, lápis, borracha e celular. No centro da imagem, há uma folha com ilustração de uma pessoa em pé com os braços abertos.

Por Guilherme Turazza*

Algumas coisas são difíceis de entender em um primeiro momento, mas são simples de explicar.

Assim começou minha rotina na Espiral Interativa. Logo quando entrei na agência (há um ano e meio, aproximadamente), não entendia muito bem os pontos que já estavam na essência de todos que ali trabalhavam: a acessibilidade.

Para um leigo, como já fui um dia (e ainda sou com alguns assuntos), a acessibilidade pode ser resumida em poucos pontos. Uma rampa para cadeirantes, uma legenda em um vídeo, assentos para pessoas com deficiência. Era isso que eu pensava logo de cara. Então, o que eu, como designer digital, faria com a acessibilidade?

Aos poucos, fui me familiarizando com o tema inclusão. As pessoas precisam ser incluídas não só nas ruas e vídeos, mas na web também. Às vezes, é difícil imaginar que alguém teria dificuldade de abrir uma página simples, como a de um portal de notícias ou de uma loja virtual. Geralmente está tudo fácil, na ponta dos dedos. Só precisa de um clique aqui ou ali.

Mas chegamos a outro ponto: você sai do seu lugar de uma pessoa com mobilidade em todo corpo, sem nenhuma deficiência visual, auditiva ou intelectual, e se coloca em algumas situações diferentes. Como, por exemplo, um tetraplégico – que utiliza apenas os movimentos da cabeça para navegar na internet – pode fechar um pop-up com um botão minúsculo? Ou um cego que tem apenas o leitor de tela para indicar o conteúdo de uma página cheia de imagens, mas nenhuma delas com descrição?

Posso dar o exemplo de uma situação mais próxima: de um daltônico que possa mesclar cores de texto com as cores de fundo e não enxergar uma única coisa na tela. Hoje, poucos designers e desenvolvedores têm a empatia ou até mesmo o conhecimento para se atentar com todos esses pontos. Logo entendi que cores são importantes, assim como o tamanho dos elementos, textos, ilustrações, imagens. Tudo merece cuidado.

É necessário um carinho com o trabalho que, por muitos, passa batido ou é visto como algo desnecessário. Há um certo egoísmo, onde as pessoas trabalham e criam apenas para outras como elas. Talvez com um pensamento de que outros que possam ter dificuldades não precisam daquilo que elas fazem – o que raramente é verdade.

Até então, pode-se imaginar que a acessibilidade é voltada apenas para pessoas com deficiência. Ela vai além disso. Com um pouco de aprendizado e entendimento do assunto, é fácil perceber que ela engloba tudo e todos.

Pegue uma pessoa com dificuldades para ler. Não precisa ser um cego. Pode ser eu mesmo, que tenho um grau alto de astigmatismo. Sem óculos, tenho dificuldade de enxergar e as coisas ficam meio nubladas. Os textos miúdos são meus maiores inimigos.

Agora imagine esse texto minúsculo em uma fonte fina, cor cinza bem clarinha, escrito em um fundo branco e chapado. Tenho a impressão daquele texto ser invisível não só quando eu estou sem óculos, mas também quando estou com eles. Outro exemplo é quando estou lendo uma matéria em algum site e, do nada, a página atualiza, automaticamente, e faz com que eu fique perdido na leitura. Acabo tendo que caçar onde tinha parado de ler, perdendo tempo e paciência.

Situações como essas acontecem comigo, com você, crianças, idosos, pessoas com ou sem deficiência, todos os dias em diversas situações, não só as que exemplifiquei. E ainda falta muito cuidado e atenção na web. Às vezes, pequenos ajustes que ajudariam muitos e melhorariam a usabilidade de mais pessoas. Falta empatia com os outros e, em muitas vezes, só um pouco a mais de dedicação para que as pessoas se sintam tão bem e incluídas na web quanto você mesmo.

*Guilherme Turazza é designer da Espiral Interativa.