Por William Daflita*
Eu nasci e cresci em um ambiente muito religioso. As mulheres, do início da minha vida, eram fortes, e seguiam o estereótipo de “donas de casa”. Minha mãe, avós e tias, todas tinham suas qualidades e defeitos, mas sempre estavam ligadas a desenvolver o lar e a família. Não tinham uma referência no mercado de trabalho. Isso mudou quando entrei na Espiral.
Comecei, por aqui, com 21 anos, bem novo. Um Analista Jr., sem ensino superior completo, que aprendeu tudo sozinho, em casa, e com somente dois empregos no currículo – um deles, em um segmento totalmente diferente da atuação da agência.
Trabalhar em uma empresa liderada por uma mulher, Simone Freire, e cheia de outras mulheres fortes, me deixou apreensivo. Me perguntava: Será que eu sou machista? Como vou me comunicar com essas pessoas?
Além disso, a bolha que costuma existir em departamentos de TI poderia não ajudar. Não é um departamento muito comunicativo. Não tem muitas mulheres. Não parecia ser um cenário favorável, certo? A visão religiosa da mulher, como a que tive na infância, somada a uma área de trabalho totalmente dominada por homens, seria uma mistura com grandes chances de dar errado…
Em agosto de 2017, fui relembrado desse sentimento. Um engenheiro de software do Google lançou um memorando interno onde argumentava que a ausência de mulheres nos altos cargos de tecnologia ocorre por “diferenças biológicas” entre homens e mulheres.
Esse artigo recebeu várias críticas, principalmente de mulheres (né?). Porém, reza a lenda que existiram vários comentários positivos, de colegas de trabalho, enviando mensagens de apoio de forma privada.
Não fiquei surpreso…
Confesso que já compartilhei de uma opinião parecida.
Depois de um tempo trabalhando na Espiral, tive a oportunidade de acompanhar a Simone em uma reunião sobre um sistema para um cliente. Ela me chamou como apoio técnico. Meu pensamento foi de que eu iria na reunião e precisaria descrever e pensar todo o sistema. Não foi o caso. A Simone descreveu o que o cliente queria com maestria. Dando todos os parâmetros e conceitos.
Ela sabia o que o sistema precisava fazer e qual era a expectativa do cliente. Vê-la unir essas duas pontas, ao vivo, sem tempo para planejar, no gogó, foi incrível. Ela desenvolveu o sistema ali.
Eu acabei percebendo que estava ali apenas para responder perguntas específicas de programação e outros detalhes mínimos. Ela só precisava de mim porque não tinha tempo de aprender a programar.
Tecnologia não são só bits e bytes. Nada do que eu fiz como programador dependeu só de mim.
Todos os insights que recebi, de não programadores, me ajudaram a melhorar meus testes, meus processos, minha lógica. Entrei na Espiral como programador e virei um desenvolvedor de soluções.
O mercado da Espiral ajudou muito. Nós trabalhamos, principalmente, com o tema da acessibilidade e com empresas do terceiro setor. Tive a oportunidade de conhecer mulheres incríveis que fazem a diferença onde passam. Mulheres que me impactaram mais do que os homens que conheci.
O maior aprendizado que tive, com todas essas pessoas, é que elas pensam de uma forma diferente. Hoje, em um cargo de coordenação, aprendi a ver o valor que uma equipe diversificada pode trazer para um projeto. Quanto mais opiniões, experiências e pensamentos diversos, mais qualidade e melhores serão os resultados.
Ainda não tive a oportunidade de trabalhar com uma programadora, mas sigo ansioso para ver como uma mulher pode agregar em uma área ainda dominada por homens. O potencial é enorme e o espaço está aberto, pelo menos aqui.
Essa é a essência da nossa agência, uma equipe multidisciplinar e diversificada. Queremos mais mulheres, gays, héteros, pessoas com deficiência, estrangeiros, negros, brancos, pardos, que gostam de gatos, que gostam de cachorros, magros, gordos, tímidos, extrovertidos…
Queremos o diferente!
- * William Daflita é gestor de projetos da Espiral Interativa.