Um pouco do que aprendi com os cães-guia

 

Minhas paixões da época de criança que persistem até hoje: escrever, ler e cachorros. Adorava inventar e conhecer novas histórias. Gastei horas pensando em como um cão poderia ser filhote para sempre. Nunca encontrei a resposta, mas isso não me incomodou. Cresci, assim como meus amigos peludos, e, pelo que me lembro, foram poucos os anos da minha vida em que não estive rodeada por um deles. E que bom isso!

Já adulta e na época de escolher uma profissão, optei pelo jornalismo. Tinha aquela sensação e vontade de todo estudante do curso em fazer alguma diferença no mundo por meio das palavras. Algo clichê e que, depois que a gente sai da academia, descobre, na prática, que não é tão fácil assim, mas é uma tarefa possível (continue lendo essa história! ;)).

Meu livro sobre os cães-guia

Foi no final da faculdade que juntei minhas antigas paixões e fiz um livro reportagem sobre cães-guia, chamado Amor de Guia: a história de cães que emprestam seus olhos para quem não pode ver”. Link para a página do livro. Entrei neste universo de corpo e alma, mesmo nunca tendo convivido com um cego e tendo visto apenas um animal guiando.

Minha motivação na época – ou melhor, o choque – foi saber que, no Brasil, havia mais de 6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual, e o número de cães-guia trabalhando não chegava a cem. (Observação importante: isso foi há seis anos e, infelizmente, essa diferença não diminuiu ainda).

Fiz pesquisas, reuni o máximo de informações sobre o assunto e levantei diversas fontes envolvidas no processo de treinamento desses anjos de quatro patas. Famílias socializadoras, treinadores, instrutores e até mesmo usuários de cães-guia, em período de trabalho e na aposentadoria, foram ouvidos.

Entre eles, estava George Harrison. A primeira vez que em ele teve contato com um cão-guia foi um divisor de águas em sua vida (isso acontece com todo mundo que se envolve com a causa. Pode perguntar). Foi em um evento no Rio de Janeiro. Lá, ele teve a certeza de que era isso que queria para sua carreira. Por isso, após muitos estudos, desenvolveu um modelo próprio de treinamento. Criou o Cão-Guia Brasil, em Niterói, no Rio de Janeiro, que acabou se tornando uma das poucas instituições no país a realizar esse trabalho.

Sozinho, ele foi atrás de patrocínio e apoiadores para manter o projeto funcionando. Várias vezes, pensou em desistir e mudar de profissão. A formação desses animais é algo caro, cerca de R$ 30 mil, e o processo, moroso. O período de treinamento dura 2 anos, em média, e muitos cães podem não chegar a se graduar como guias.

Ainda assim, conseguiu entregar gratuitamente seis cães e mudar a vida dessas pessoas. Mesmo diante das dificuldades, George se manteve firme, e essa é apenas uma das grandes lições que aprendi desde que me envolvi com a causa!

E sabe por que contei toda essa história? Faz quase três meses que estou aqui na Espiral Interativa. No entanto, eu já acompanhava os trabalhos da agência e do Movimento Web para Todos (iniciativa incrível e apaixonante que, se você não sabe do que se trata, PRE-CI-SA conhecer e se juntar a nós!) há pouco mais de seis meses. Quando surgiu a oportunidade de integrar a equipe, a receptividade e a aprovação pelo meu engajamento com a causa dos cães-guia foram super bacanas. E isso, depois, eu vi na prática.

No último dia 28 de setembro tive um “day off” para acompanhar de perto a realização do sonho do George. Desde 2016, ele e outro instrutor de cães-guia, Moisés Vieira, juntaram-se ao Grupo Adimax Pet, para a criação do Instituto Magnus. E, naquela tarde quente no interior de São Paulo, mais precisamente em Salto de Pirapora, pude participar da cerimônia de inauguração do maior centro de treinamento de cães-guia do país. Foi simplesmente incrível e impossível segurar as lágrimas!

Emocionante do início ao fim acompanhar aquele momento com amigos queridos que tive o prazer de ganhar ao longo desses anos. E muito mais do que isso: presenciei a entrega de quatro cães-guia e o anúncio a outros dois cegos de que serão os próximos beneficiados pelo projeto. Foi uma surpresa para eles essa notícia, e eles ainda puderam interagir com seus futuros companheiros.

Instituto Magnus

Ao conhecer a estrutura do Instituto Magnus, ficou claro que ali irá se tornar um refúgio para os cegos e as pessoas com baixa visão. Isso porque é um lugar que não os lembra de que o mundo não foi feito para eles; pelo contrário, traz esperança e renovação dos sonhos. Há sinalização em braile em todos os lugares, além de piso podotátil. Acima de tudo, há pessoas empáticas e gentis procurando facilitar e trazer mais mobilidade a eles.

Chegada à Espiral

Com toda essa experiência e a minha chegada à equipe da Espiral, eu me sinto privilegiada todos os dias. Estou aprendendo muito sobre outras causas que merecem militância, crescendo ao lado de um grupo de pessoas tão diferentes e engajadas, que querem e acreditam que podem fazer alguma diferença no mundo!

Mesmo que essa diferença comece pequena e vá ganhando força/adeptos aos poucos, não tem problema. Seguiremos em frente e confiantes, ainda que não seja fácil, porque é assim que toda (r)evolução começa.